sexta-feira, 18 de julho de 2008

Paradoxos do Nosso Tempo


Construímos auto-estradas amplas, mas não ampliamos o nosso ponto de vista. Gastamos muito, consumimos demais, e desfrutamos menos, porque nada nos satisfaz. Temos casas maiores e famílias menores; mais ocupações e menos tempo para dedicar aos nossos afectos. Buscamos o conhecimento e permitimos um fraco poder de julgamento. A medicina está mais avançada mas não conseguimos manter a saúde desejada. Bebe-se demais, fuma-se demais, gasta-se de forma perdulária e não se conquista a alegria verdadeira. Conduzimos rápido demais mas irritamos-nos com muita facilidade. Raramente lemos um livro. Vemos televisão a mais e quase nunca rezamos. Multiplicamos as bens, mas diminuímos os nossos valores. Falamos demais, amamos de menos e odiamos com muita frequência. Aprendemos como ganhar a vida, mas não sabemos aproveitá-la bem. Adicionamos anos à extensão das nossas vidas, mas não vida à extensão dos nossos anos. Já fomos à lua e voltamos, mas temos dificuldade em atravessar a rua para falarmos com o vizinho. Conquistamos o espaço exterior, mas desconhecemos a nossa intimidade. Fazemos coisas em quantidade, e poucas vezes nos importamos com a qualidade. Limpamos o ar, mas poluímos a alma. Dividimos o átomo, mas não os nossos preconceitos. Salvamos o mico-leão e abortamos as nossas crianças. Falamos muito, reclamamos em excesso, poucas vezes prestamos atenção nas próprias palavras e, raramente ouvimos o próximo. São tempos em que planeamos mais, e realizamos menos. Aprendemos a correr contra o tempo, mas não a esperar com paciência. Temos tido cuidado excessivo com as coisas exteriores, e pouco valor ao padrão moral. Temos juntado bens materiais, mas não construimos paz interior. Possuímos computadores que nos permitem viajar pela aldeia global em poucos minutos, mas diminuímos a comunicação com as pessoas que nos cercam. Temos permitido múltiplos relacionamentos, mas não nos preocupamos em cultivar afectos verdadeiros. São dias de duas fontes de rendimento familiar, e de mais divórcios; de residências mais bonitas, e lares destruídos. Enfim, estes são tempos de alta tecnologia que nos permitem levar estas palavras a todos e que dão total liberdade de escolha entre reflectir sobre elas, ou simplesmente ignorar.

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